terça-feira, setembro 26,21:47
Uma casa no campo
Entro pela parte de trás, pela cozinha e a primeira coisa que sinto é o cheiro de doce de leite (de cortar) acabado de fazer. Passo o dedo pela panela e levo um raspanete da minha mãe, sigo em frente determinada e chego à sala de jantar, toda aquela luz de uma casa feita de pedra, madeira e principalmente de vidro apanha-me de surpresa, porque olho em frente e vejo o lago a reflectir a luz da tarde, a mesma luz que nunca é igual em outra altura do dia ou em qualquer outro lugar.

Olho para a esquerda, depois de passar pela mesa redonda feita de um único tronco de árvore, com o tampo cortado como uma fatia de tarte de laranja e vejo uma criatura no chão... o meu cão, perdigueiro, branco e preto, orelhas caídas com cara de chateado... pois claro, a minha gata não o deixa em paz nenhum minuto, a roçar nas suas patas... e ele, sabe que nada pode fazer e encosta-se à parede à espera que ela desista.

Desço dois degraus e estou na sala de estar, do lado direito, num canto especial e num sofá de dois lugares apenas, com a janela à sua frente está o meu pai a ler o jornal, calmamente diz-me para parar de dançar ballet com meias pelo chão (de tábua corrida e encerada), porque vou cair... E caio. Como sempre ele tinha razão, mas a música e o palco, ambos imaginários... são mais fortes e continuo assim mesmo, até cair outra vez e mais outra...

Desisto, sigo em frente, do meu lado esquerdo passo pela porta do meu quarto que tem o tecto descaído, da maneira que eu gosto e desço mais dois degraus. Cá estou, perto da lareira, sem paredes à minha frente, só vidro a ver o lago.

O lago onde com um barquinho a remo, via os “helicópteros” (nome que o meu pai dava às libélulas para nos chamar a atenção), que atravessava a nado, seguida pelo meu cão e pelo meu irmão (um chato) que sempre arranjava maneira de acabar com o meu sossego. Desvio o olhar e vejo do outro lado macieiras em flor, tantas...

Se fechar os olhos consigo tocar esta lembrança, sentir o cheiro do verde, a água a correr, o toque na madeira e nas pedras de uma casa, de um lugar que não tinha nada e foi construído desde a primeira pedra. Um lugar nosso, mas principalmente um lugar meu, tão meu que ainda existe aqui. Comigo.

*este post não tem imagem, porque nenhuma era capaz de descrever este lugar...
 
posted by Meia Lua
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